À Cristina
Amo uma mulher concreta e tenho de o dizer
em todas as línguas e silêncios
na dança do trigo
e na nascente dos rios
na casca do salgueiro
na cascata vermelha
na encosta do vulcão que é e foi
e será sempre o meu poema.
Amo esta mulher concreta
por dentro do seu nome.
Amo esta mulher com as rugas que não tinha
ontem. Amo a mulher carregada
de uma pálida névoa nos olhos
que fogem como esquilos quando quero
adoçar-lhe o sofrimento.
Amo uma mulher concreta e tenho de o gritar
com todos os músculos do corpo.
Uma mulher concreta
saindo da terra
em busca da terra.
Um animal perecível habitando a mágoa
com o seu perfume essencial.
Amo uma mulher concreta
e digo que ela é o meu limite
o meu incêndio
o sítio exacto onde o horizonte agarra o sol e engole morangos
a casa onde um pássaro de fogo se consome
cantando para lá de todas as galáxias.
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